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Mostrando postagens de 2015

Entendendo algumas questões de gênero nas Tradições de Matriz Africana

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A sociedade ocidental é constituída sobre quatro pilares ideológico-culturais: a heteronormatividade, o racismo, o cristianocentrismo e o machismo. O machismo é a ideologia que sustenta que o homem é superior à mulher, logo merece as melhores posições, melhores salários, etc. Quando este sentimento de superioridade é exagerado, ou seja, quando há um total desprezo pelas mulheres e seu universo, estamos falando de misoginia. Ser um "pilar ideológico-cultural" significa que a cultura de uma sociedade está arraigada destes valores, por isso dizemos que a cultura ocidental é machista, logo devemos rever estes aspectos culturais, pois a cultura não é engessada, ela pode ser remodelada - e de fato o é - de tempos em tempos. Para Braudel a cultura é "tempo longo", o que indica que suas perspectivas são mais duradouras e difíceis de serem revistas e reconstruídas, por isso Deleuze nos incita a "desconstruir" a cultura para reconstruí-la de forma a contempla

Egun e o Dia de Todos os Santos

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Hoje é Dia de Todos os Santos para algumas igrejas cristãs como a católica, a ortodoxa, a anglicana e a luterana. Embora tenham divergências teológicas a respeito da celebração, todos prestam homenagem a memória de mártires que defenderam inabalavelmente sua fé diante de torturas e da iminência da própria morte. Foram exemplares e, por isso mesmo, são veneráveis modelos para os cristãos de todo o mundo. Santo, em latim "sanctum", significa "separado" (ELIADE), ou seja, os santos são aqueles que já foram separados do mundo pela graça de Deus. Sejam eles conhecidos ou anônimos, todos são festejados nesta data. Na tentativa de traçar uma estratégia de conversão dos africanos escravizados, a longo prazo, a igreja católica promoveu o sincretismo de alguns de seus santos com os Orixás. O fato é que teologicamente os santos não são comparáveis aos Orixás, pois estes últimos são divindades criadas por Deus para a manutenção da criação, enquanto que os primeiros foram seres

PEQUENA REFLEXÃO AFROTEOLÓGICA SOBRE A ÁGUA

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Por Hendrix Silveira* As tradições de matriz africana tem uma relação estreita com as forças da natureza. Acreditamos que as divindades (Orixás/Voduns/Nkisis) criadas por Deus (Olodumare/Mawu-Lisa/Nzambi) para regularem e fortalecerem com o seu poder (Axé/Nguzu) toda a Criação, partilham dessas forças. De fato isto faz com que algumas teorias de que os Orixás seriam as forças da natureza estão equivocadas. Os Orixás não são as forças da natureza, mas sim as forças da natureza existem em decorrência do poder dos Orixás. "Os Orixás estão especialmente associados à estrutura da natureza, do cosmo", diz Juana Elbein dos Santos em Os nagô e a morte (p. 102). Os quatro elementos - água, fogo, terra e ar - são a matéria simbólica do qual os Orixás têm controle através de seu Axé. Estes quatro elementos não estão hierarquizados em níveis de importância. Cada um deles tem seu papel na manutenção do cosmo através dos Orixás. Contudo observamos que a água é o grande agente promotor

Títulos hierárquicos no Batuque do RS

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Eu sempre digo que sou conservador no Batuque. Isto significa que concordo com novas interpretações, mas não com a alteração dos ritos. Os ritos do Batuque foram instituídos por nossos ancestrais e devemos honrá-los. Contudo, defendo o uso de alguns títulos no Batuque que são típicos do Candomblé como Abíyán, Ìyàwó e Ẹ̀gbọ́nmí. Alguns criticam isso porque seria candomblenizar o Batuque. Outros que seria uma apropriação indevida. Eu acredito que não há problema algum, assim como não houve quando passamos a utilizar os termos Bàbálórìṣà e Ìyálórìṣà que também foram criados pelo Candomblé. Em África estes títulos não existem. O termo típico do Batuque para o sacerdócio, pelo menos até meados dos anos 1980, era Babaláu e Babalôa , certamente corruptelas de Bàbáláwo , o sacerdote de Ifá-Ọ̀rúnmìlà. Foi com a popularização do Candomblé na grande mídia no centenário da abolição da escravatura em 1988 que os termos Bàbálórìṣà e Ìyálórìṣà começaram a aparecer por estas bandas gaudérias.

MOVIMENTO EM DEFESA DAS TRADIÇÕES CULTURAIS RELIGIOSAS DE MATRIZ AFRICANA CONTRA O PL 21/2015

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No link abaixo o material com a produção de quatro textos que nos ajudam a discutir o PL 21/2015. Foi produzido com a intenção de socializar elementos que podem constituir bons argumentos na defesa das Tradições de Matriz Africana no tocante ao crescente investimento de segmentos fundamentalistas da sociedade que intencionam destituir essas tradições de sua dignidade e direitos. Sumário Hendrix Silveira TRADIÇÕES CULTURAIS RELIGIOSAS DE MATRIZ AFRICANA: DADOS EPISTEMOLÓGICOS EM CONSONÂNCIA COM A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA VIGENTE Ricardo da Silva Ribeiro ANÁLISE ECONÔMICA DO IMPACTO DO PROJETO DE LEI 21/2015 Miguel dos Santos Cerqueira A EFETIVIDADE DE UM DIREITO FUNDAMENTAL Sidnei Barreto Nogueira CARTA ABERTA À POPULAÇÃO QUE CRÊ NA LAICIDADE DO BRASIL E AOS LÍDERES DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS ACERCA DO PROJETO DE LEI 21/2015, DA DEPUTADA REGINA BECKER FORTUNATI (PDT/RS) QUE PROÍBE O SACRIFÍCIO DE ANIMAIS EM RITUAIS RELIGIOSOS

NOTA OFICIAL DAS INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS DO POVO DE TERREIRO E DO POVO NEGRO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O PL 21/2015

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As Tradições Culturais e Religiosas de Matriz Africana são, historicamente, o maior alvo da INTOLERÂNCIA RELIGIOSA e do RACISMO que é a ideologia estruturante da cultura ocidental, sobretudo a brasileira. Esta sociedade que aí se apresenta é herdeira do pensamento xenófobo (MOORE), eurocêntrico (DUSSEL), colonialista (QUIJANO), epistemicida (SANTOS) e cristianocêntrico (SILVEIRA) que beneficia quem for homem, branco, heterossexual e cristão em detrimento de outros gêneros, etnias, povos e visões de mundo. Entendemos que a Afroteofobia (JESUS) que se refere à demonização e perseguição às Tradições Culturais e Religiosas de Matriz Africana motivada por racismo e pela intolerância religiosa, tem recrudescido nos últimos 30 anos e que neste século, por conta da ascensão de representantes de grupos fundamentalistas ao poder público, sobretudo nos parlamentos, tem repercutido sob a forma de criação de leis, muitas vezes disfarçadas, que visam cercear a liberdade de culto dos p

Curso EAD em História e Teologia das Tradições de Matriz Africana: Batuque e Candomblé

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Com o Prof. Bàbá Hendrix Silveira de Ọ̀rúnmìlà APRESENTAÇÃO O curso tem por objetivo entender a História e a Teologia das Tradições de Matriz Africana. Busca compreender como essa tradição sofreu a sua destituição epistemológica; atribui sentidos e propósitos aos rituais a partir de uma reflexão teológica fundamentada numa epistemologia interdisciplinarizada, afrocentrada e pós-colonializada; dá-nos a conhecer a história dessa tradição, desde suas origens africanas até a reestruturação local; auxilia tanto pesquisadores sobre o tema quanto profissionais na área de educação, sobretudo no campo da Teologia, das Ciências da Religião e do Ensino Religioso; assim como municiar os vivenciadores que, devido à perseguição histórica, acabaram por ter seus saberes ancestrais destituídos com o epistemicídio engendrado pelo colonialismo. OS MÓDULOS Este curso será desenvolvido em cinco módulos totalizando 60h. No primeiro tratamos da tradição africana na sua relação com sua histór

Marcos legais que resguardam o direito a Liberdade de Culto das Tradições de Matriz Africana

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Constituição Federal Art. 5º, inciso VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a Proteção aos locais de culto e a suas liturgias; Art. 19, inciso I - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança. Art. 215 . O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. Art. 216 . Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto

Tradições de Matriz Africana e Saúde: o cuidar nos terreiros

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Os Òrìṣà são divindades cultuadas nas tradições de matriz africana e têm um importante papel na manutenção da vida, que se inscreve na perspectiva da saúde cuja visão é sempre integral. Este artigo pretende trazer elementos que contribuam para uma compreensão da questão da saúde segundo as tradições de matriz africana a partir de seu componente teológico e filosófico à luz da exunêutica e sistematizados pela afroteologia. Para tanto apresentamos as tradições de matriz africana conceitualmente, como se dá o processo de acolhimento, as interpretações sobre a doença e as divindades relacionadas com o reestabelecimento da saúde. Ao concluir passamos a entender que a vida, para estas tradições, é o seu objetivo primordial. Leia o artigo completo clicando AQUI . Ao citar este texto use a seguinte referência: SILVEIRA, Hendrix. Tradições de matriz africana e saúde: o cuidar no terreiro. In: Identidade! . v. 19. n. 2. São Leopoldo: Faculdades EST, 2015. p. 75-88.

História das Religiões do Mundo - As Religiões Africanas e as Afro-Ameri...

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Exú no Brasil

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O Cuidar no Terreiro

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DE SATANÁS!

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A História do Racismo e do Escravismo (BBC).

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Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás

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"África: uma História Rejeitada" - Documentário "Civilizações Perdidas"

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FILME BATUQUE GAUCHO

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ÌPÈJẸ: A IMOLAÇÃO NAS TRADIÇÕES DE MATRIZ AFRICANA

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Hendrix Silveira [1] Chamamos de Tradições de Matriz Africana as manifestações civilizatórias africanas que foram transpostas às Américas durante o período do tráfico transatlântico de cativos para o trabalho compulsório nas Américas. Estas manifestações foram adaptadas à realidade da diáspora através de hibridizações, supressões e acréscimos de vários elementos. Para o historiador e etnólogo malinês Amadou Hampâté Bâ [2] , a cultura africana está intimamente vinculada à vida numa concepção de mundo como um todo “onde todas as coisas se religam e interagem. A tradição oral baseia-se em uma certa concepção de homem, do seu lugar e do seu papel no seio do universo.” Deve-se ter em mente que, de maneira geral, todas as tradições postulam uma visão religiosa do mundo. O universo visível é concebido e sentido como o sinal, a concretização ou o envoltório de um universo invisível e vivo, constituído de forças em perpétuo movimento. No interior dessa vasta unidade cósmica, t